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Biógrafa refaz passos de Dorothy Stang e ataca impunidade
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A escritora britânica Binka Le Breton mora no Brasil desde 1984. Seus livros evidenciam mazelas do país, como trabalho escravo, violência e cultura da impunidade. Todos esses temas se entrecruzam no último trabalho de Binka, A Dádiva Maior, a Vida e a Morte Corajosas da Irmã Dorothy Stang (Editora Globo), sobre a freira norte-americana assassinada em 2005, no Pará, numa região marcada por conflitos de terra. A obra foi lançada nos Estados Unidos e começa a chegar às livrarias brasileiras.

Veja um trecho de A Dádiva Maior, a Vida e a Morte Corajosas da Irmã Dorothy Stang:

Dorothy caminhou morro acima para onde a estrada fazia a curva. Ao virar ela viu Rayfran e Eduardo saírem da floresta. Por um momento ficou assustada. Estariam vindo para a reunião afinal? "Bom dia", ela disse um pouco hesitante. "Vocês mudaram de idéia?"

"Não, estamos indo trabalhar", disseram.

"Plantando semente de capim?"

Eles assentiram.

"Oh, meus queridos", disse Dorothy em sua voz suave. "Não façam isso. É um crime plantar pasto nas terras dos assentados."

"Deixe-me lhe perguntar uma coisa", disse Eduardo com um pequeno sorriso. "Você gosta de comer carne?"

"Oh, sim", respondeu Dorothy, sorrindo. "Mas há muito gado na região, e esta terra pertence ao PDS, e eles estão plantando cacau. Então sinto muito, mas vocês vão ter que arrancar o capim."

Eduardo sentou-se no tambor e acendeu um cigarro. Não sabia por que estavam perdendo tempo conversando. Melhor acabar o serviço logo antes que chegasse alguém. Ele piscou para Rayfran, e então ouviu aquela voz suave novamente.

"Não é sua culpa. Eu compreendo sua posição. Vocês são apenas mão-de-obra contratada. Mas deixe-me mostrar-lhes o mapa, e verão por si mesmos."

Dorothy abriu sua sacola de pano, inclinou-se e espalhou o mapa no barro vermelho da estrada. "Estamos aqui." Ela apontou para a estrada. "E esta é a terra que Tato está reclamando. Mas o INCRA diz que pertence ao PDS."

Nenhum dos homens estava ouvindo. Rayfran pegou a arma, mas Eduardo balançou a cabeça quase imperceptivelmente e Rayfran parou. Dorothy se levantou, dobrou seus mapas e ajustou os óculos. "Esta é a situação", ela lhes disse.

"E é melhor eu ir andando." Ela esticou a mão e Rayfran a pegou, Eduardo se levantou um pouco, e ela pegou a mão dele. Dorothy se voltou para ir, e Eduardo acenou. Rayfran puxou a arma. "Irmã!", ele gritou.

Dorothy se virou e viu a arma. Ficou ali parada um instante, paralisada. "Meu Deus!", disse a si mesma.

"Ele realmente quer me matar."

"Bem, senhora", ela o ouviu dizer, "se não resolvermos este assunto hoje, não resolveremos mais."

 

Fonte: O Estado de S.Paulo

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